Há na história da literatura mundial personagens que transcendem as páginas e se tornam arquétipos universais da condição humana, em nossa própria face deformada pelas convicções absolutas. Javert é um desses monumentos à rigidez que a civilização erige para sua própria ruína. Não é por acaso que, em tempos de polarização ideológica e fanatismo moral, multiplicam-se os Javerts em todas as esferas da vida pública, homens e mulheres que, incapazes de perceber a complexidade do real, preferem jogar-se ao Sena da própria consciência a admitir que o mundo não cabe nas categorias estreitas que construíram. A tragédia de Javert é, em essência, a tragédia do homem moderno: quanto mais se apega à letra da lei, mais se afasta de seu espírito; quanto mais se julga racional, mais se torna prisioneiro de um racionalismo que é a própria negação da razão.
Em “Os Miseráveis”1, de Victor Hugo, conhecemos o implacável Javert, a lei em pessoa, o grande antagonista no caminho de redenção de Jean Valjean, o herói da história.
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